terça-feira, 7 de julho de 2009

Há 4 anos atrás...

Uma característica minha é ser nostálgico, adoro lembrar coisas passadas e falar sobre, muitas vezes com emoção.
Alguns momentos que eu tive na vida são tão marcantes que eu até lembro a data exata dos acontecimentos, e o que eu estava fazendo momentos antes.

Há 4 anos atrás eu estava em Londres, nessa época já estagiava na Argus Vickers, empresa de consultoria financeira para investidores em empresas de médio porte, como livrarias, franquias de restaurantes e etc.
No mercado de capitais de Londres tudo quanto é empresa tem capital aberto, recebe investimentos e se expande; pelo menos em 2005, antes dessa crise monstruosa, era assim.
Hoje em dia não sei como acontece.

No dia 6/07/2005, Londres conquistou o direito de sediar as Olimpiadas de 2012, e no escritório foi uma loucura...todo mundo ouvindo no rádio, a patroa, Susan Baldry, comprou champagne e vinho por conta dela, todo mundo tava de olho na birita, porque éramos entre 12 e 13 pessoas trabalhando naquele espaço, e só quatro eram ingleses: tínhamos três brasileiros (contando comigo), dois espanhóis, uma romena, uma colombiana e um polonês, sem contar mais dois estagiários franceses que passaram lá por tempo curto.
O resto queria bagunça!

Quando a Virgin Radio anunciou a vitória, o champagne estourou, o vinho se abriu, a cerveja (que fiz questão de colocar pilha pra firma bancar) também subiu e foi uma farra; todo mundo foi embora pra casa mais cedo e altamente calibrado.
Logicamente, como o grau já era considerável, fui pra casa e dormi cedo, um sono delicioso por sinal, vendo programas de tv tão ridículos quanto os que temos aqui, que são verdadeiros soníferos.
A única diferença é que no canal 3, depois das 22 horas, rolava sacanagem explícita na tv, aí dava pra assistir.

Enfim, dia seguinte, 7/07/2005, às 6:30 eu tava de pé, peguei meu metrô na hora certa e fui pra mais um dia de trabalho normal...ou quase.

Estava tudo muito demorado, tivemos que trocar de linha duas vezes, e a viagem que demorava meia hora já durava mais de uma hora, e como sou um chato com pontualidade, a chefe cobrava isso, eu tentava ligar pra lá pra justificar meu atraso, mas o telefone não pega no underground, não tem sinal de jeito nenhum.
Na quarta troca de linha de metrô, um barulho estranho, na minha cabeça era certamente uma manutenção de vagão, ou coisa parecida...um barulho estranho, meio alto...mas como tudo estava normal, eu não tinha do que desconfiar, nem ninguém do meu lado.
Uma voz pede para que paremos na próxima estação e desçamos, o que causou revolta, todo mundo tinha hora pra ir trabalhar, e foi instantênea a reação: "com esse metrô dando defeitos eles querem sediar uma Olimpíada...idiotas!"
A estação de Kings Cross é a maior de todas, e estava totalmente lotada, foram mais de 20 minutos pra sair da estação.
Fui pro ponto de ônibus, completamente lotado, os ônibus só soltavam passageiros, não entrava ninguém, e todo mundo nervoso...porque Londres é muito grande, a caminhada que eu faria não demoraria menos de uma hora, e isso já era coisa de onze horas da manhã.
A polícia já tomava conta das ruas, vi que tinha algum problema acontecendo, mas não entendi o que era, acho que ninguém tinha noção, até que decidi ir a pé, pronto pra deparar com olhos reprobatórios da chefe em cima de mim, pensaria: "brasileiro safado...não sabe beber e chega atrasado de ressaca".

Nesse momento um barulho alto, eu puto imaginei que era algum caminhão batendo...até que, nessa época meu inglês era fluente, modéstia a parte, era muito bom, e eu entendi, no caminho do escritório, a conversa de dois policiais, totalmente por acaso: "...o ônibus explodiu..." ou "a bomb went off on the bus..."mas ainda assim eu tentei entender, que desgraçado explodiria uma bomba num ônibus?

No caminho me deu fome, parei pra tomar um café e um pub estava completamente lotado; antes de poder imaginar se tratar em algum jogo, leio a manchete na tv: "London under atack".

A ficha caiu, era atentado terrorista: um bocado de gente morreu, mais um bocadão ficou ferida e o medo tomou conta, pelo menos no que eu pude notar.
Em cada parque ou espaço público havia vistorias policiais, todo mundo parado, ninguém entrava e ninguém saia, havia medo de mais bombas armadas.

Cheguei no escritório ao meio dia, e tinha gente chorando, desesperada porque só o Vitor não chegava, mas chegou, vaso ruim não quebra.
Daí liguei pro escritório do meu pai, ele em total desespero, como eu imaginava, mas os telefones celulares estavam fora do ar, pra evitar que os terroristas de comunicassem, eu estava incomunicável.
Mas o pior tinha passado.
Deixei meu pai tranquilo e ele repassou a informação pra quem deveria saber, e pronto.

Quando fui almoçar, perto das 14 horas, consegui falar com o Vitor Mattos e ele também estava bem, "preso" num parque e lendo, na calma que lhe é peculiar, e fiquei tranquilo de verdade.

As mortes ninguém consegue avaliar, só quem perde alguém querido pode dizer o quanto dói, mas o efeito psicológico é absurdo, todo mundo tem medo durante muitos dias, qualquer pessoa um pouco apressada e com uma mochila nas costas dentro de um vagão torna-se motivos pra olhares assustados e burburinhos.

Uma semana depois teve o caso do Jean Charles, quando tive muito medo e tomei um baita de um susto.
Mas também passou, vida que seguiu.

Nada é mais covarde do que um atentado terrorista, nada!
Se americanos e ingleses matam pessoas todos os dias nos países do Oriente Médio, revidem e retribuam nos mandantes, não em inocentes.
Não se paga um erro com outro.

Mas o mundo é muito ignorante pra entender isso, muito!

2 comentários:

  1. Foi foda, né, bicho?!
    Lembro que minha mãe me acordou as 7 da manhã dizendo "meu filho, tenta falar com seus amigos que estão em Londres, houve um atentado terrorista lá", porra, que susto!
    Entrei no msn na mesma hora já que vc tava sempre on nesse horário, só que não tava. Pensei: "fudeu"! rs
    Mais tarde o China espalhou a notícia que tava tudo bem com vc e com o Vitor.

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  2. Vaso ruim não quebra, jovem...;)

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